Comportamento alimentar de cães e gatos

Como vimos no artigo anterior sobre alimentação natural (veja aqui), existem atualmente no mercado inúmeras opções de alimentos para os cães e gatos. E antes de começarmos de fato a explorar os tipos de dietas naturais mais atuais, precisamos conhecer o comportamento alimentar dos nossos pets.

Mas ainda antes disso, precisamos falar sobre antropomorfização. O que significa esse palavrão? Antropomorfismo é a aplicação de algum domínio da realidade social, biológica, física, da linguagem ou conceitos próprios do homem – inclusive seu comportamento – ao animal. De forma mais simples, é a atribuição de características humanas aos animais. E por que é importante saber esse conceito e sua influência na vida dos nossos pets? Um animal doméstico sofre todas as influências do ser humano e isso pode afetar não só a saúde, mas também seu comportamento, já que ele passa a ser um total dependente do homem. A antropomorfização e seus efeitos sobre os pets será abordada com mais calma em um outro artigo.

Voltando ao assunto, tanto os cães quanto os gatos domésticos são membros da ordem Carnívora, o que indica que ambas as espécies se especializaram no hábito alimentar carnívoro, no entanto pertencem a diferentes ramos da ordem e, consequentemente, herdaram legados alimentares e comportamento de seleção de alimentos diferentes. O ponto em comum entre cães e gatos é sua anatomia com dentes caninos bem desenvolvidos, ausência de amilase salivar (enzima presente na saliva que inicia a digestão do amido na boca), estômago bastante desenvolvido e com pH rigorosamente ácido apto a digerir proteínas e intestino grosso curto – realçando baixa capacidade de fermentação e aproveitamento de carboidratos.
 

O comportamento alimentar do cão

Segundo MOHRMAN (1979), o cão é um animal carnívoro por definição, mas onívoro por convenção, por isso acaba sendo melhor definido como sendo um carnívoro não estrito. O comportamento alimentar do cão se divide em 3 etapas bem distintas: busca, identificação e seleção. Na busca e identificação, os cães usam o olfato para capturar odores e depois tocam os alimentos para sentir a temperatura. O olfato é o sentido mais importante nessa fase (os cães possuem entre 70 e 200 milhões de receptores olfatórios, comparado com 5-20 milhões dos seres humanos). Na fase de seleção, entra o paladar. Cães possuem cerca de 1700 papilas gustativas (contra cerca de 9000 dos seres humanos) e distinguem cinco sabores – amargo, doce, ácido, salgado e “umami” (reconhecimento de um aminoácido chamado glutamato).

Na natureza os canídeos caçam em matilhas, havendo disputas e dessa maneira uma ingestão rápida do alimento. Dependendo da raça, comem 4 a 8 ou até mesmo mais refeições, geralmente durante o período diurno. Assim, recomenda-se fornecer a quantidade calculada de alimento (ou a porção indicada pelo fabricante – no caso de rações comerciais), de preferência dividida em no mínimo duas porções diárias e caso haja mais de um cão, separa-los se houver competição/disputa pelo alimento.

DICA:
Forneça a quantidade de alimento diária dividida em pelo menos

duas porções e caso haja mais de um cão, separe-os se houver disputa pelo alimento.

 

O comportamento alimentar do gato

Ao contrário dos cães, os gatos são carnívoros estritos. Com exceção dos leões, os felídeos geralmente são caçadores solitários. O gato por seu pequeno porte, na natureza só conseguiria presas pequenas e para atender suas necessidades energéticas diárias precisava fazer várias caças. Gatos comem voluntariamente de 12 a 20 refeições por dia uniformemente distribuídas pelo período diurno e noturno. Dessa maneira, para eles, o alimento deve ficar disponível durante 24 horas, já que a restrição de horários pode levar à diminuição de consumo, exceto em problemas com obesidade.

BEAVER (2005) no entanto cita que gatos, ao receberem alimentação abundante e de fácil acesso, estão bastante susceptíveis ao tédio e à frustração. A solução para esse impasse entre acesso fácil e frustração é tornar interessante e estimulante o ato de se alimentar do gato. O uso de ração seca é mais adequado para o enriquecimento alimentar, e deve-se espalhar ração em pequenas quantidades por todo o ambiente, em locais baixos e altos costumeiramente frequentados pelo animal.

A maioria dos donos tem por hábito fornecer água no mesmo cômodo em que fornece comida. Na natureza, gatos caçam suas presas e buscam fontes de água em momentos distintos. Assim, a presença de água próxima à fonte de alimento pode, em muitos casos, fazer com que o gato beba menos água do que o necessário.

DICA:
Deixe o alimento para os gatos disponível 24 horas, mas torne estimulante o ato de se alimentar: espalhe ração seca em pequenas quantidades por todo o ambiente frequentado pelo animal, em locais baixos e altos.

Agora que o comportamento alimentar dos nossos pets foi explicado, no próximo artigo vamos começar a falar sobre os diferentes tipos de dieta da alimentação natural.

 

AMARA, R. M. A. Bem-estar de cães e gatos. Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 67 – dezembro de 2012.

BEAVER, B. Feline Behaviour: a guide for veterinarians 2nd edn New York: Elsevier Inc , 2002.

FUKUSHIMA, F. B.; MALM, C. Enriquecimento ambiental para gatos domésticos. Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 67 – dezembro de 2012.

MOHRMAN, R. K. Alimentação de cães: nutrição e criação de cães e gatos. São Paulo: Purina Alimentos, 1979.

OGOSHI, R. C. S. et al. Conceitos básicos sobre nutrição e alimentação de cães e gatos. Ciência Animal, 25(1); 64-75, 2015 – Edição Especial.

PARREIRA, P. R. Aspectos fundamentais da determinação da exigência energética de cães domésticos. Rev. Acad., Curitiba, v. 5, n. 4, p. 415-422, out./dez. 2007.

PROLINEPET. Comportamento alimentar canino. Disponível em: https://goo.gl/5ESQqt.

RAMOS, D., RECHE JUNIOR, A. Nutrição, comportamento e bem estar: o manejo alimentar em prol da saúde emocional dos cães e gatos. 2010.

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